Congresso
da entidade terminou neste sábado (30/11) em Belo Horizonte, com a participação
de 7 mil estudantes de todos os estados do Brasil.
A União Brasileira dos
Estudantes (UBES) encerrou, neste sábado (30) o seu 40º Congresso na cidade de
Belo Horizonte, com a participação de 7 mil estudantes de todo o Brasil, a
definição dos rumos do movimento estudantil para os próximos anos e a eleição
da nova diretoria da entidade. Na plenária final do encontro, realizado no
ginásio do Mineirinho, a carioca Bárbara Melo, de 19 anos, foi eleita
presidente da UBES e terá, a partir de agora, a responsabilidade de representar
os mais de 50 milhões de estudantes do ensino médio, fundamental e técnico
brasileiro.
Estudante da escola Oscar Tenório
na capital fluminense e intensamente envolvida com a onda de manifestações
brasileiras que tiveram sua explosão no mês de junho, Bárbara espera que a
entidade, com mais de 65 anos, avance na luta pelo passe livre estudantil, na
reformulação do ensino médio e nas lutas feministas. A eleição marca a
continuidade de gestões de mulheres no movimento secundarista, com a saída da
pernambucana Manuela Braga.
Veja abaixo perfil completo
de Bárbara Melo, nova presidenta da UBES
Do total de 2.209 votos, a
chapa da nova diretoria da UBES “Nenhum de nós é tão bom quanto todos nós”
obteve 82% dos votos, totalizando voto de 1.815 delegados. Também participaram
as chapas “Oposição de Esquerda”, com 313 votos, “Reconquistar a UBES”, com 36
votos e “UBES é pra Lutar” com 33. Foram somados apenas 4 votos brancos e 8
votos nulos.
O Congresso da UBES, que
teve início no dia 28/11, reuniu, por três dias, 7 mil estudantes de todos os
estados brasileiros nas cidades de Contagem e Belo Horizonte. Foram debatidos
temas como passe livre estudantil, reforma política e gestão democrática. Além
de emancipação feminina, combate ao genocídio da juventude negra e os desafios
do ensino técnico.
A plenária final aprovou
resoluções importantes como a permanente luta da entidade pela Reformulação do
Ensino Médio, reforma radical no Estado brasileiro em defesa da democratização
das mídias e a convocação da Jornada Nacional de Lutas 2014.
A
função aumentou: Um perfil de Bárbara Melo
No bom carioquês da
juventude da zona oeste do Rio de Janeiro, cabe dizer que Bárbara Melo é uma
menina “na função”. Aos 19 anos, moradora da região de Bangu, filha de um pai
técnico em eletrônica e de uma mãe que gastou suor para conciliar o trabalho
doméstico e um curso na faculdade de direito, a nova presidenta da UBES é
bate-pronto, desembolada, na fita, disposição. Estudante do pré-vestibular e
recém-formada no ensino técnico, em um curso de administração, ela acredita que
a vida tem acelerado o passo no caminho que a levou, em apenas três anos, da
disputa na quadrilha de festa junina da escola ao movimento do grêmio
estudantil, posteriormente à presidência da Associação Municipal dos Estudantes
do Rio de Janeiro (AMES) e agora ao posto máximo do movimento secundarista
brasileiro. “Admito que dá um pouco de medo, mas tô aí”, sorri matando no
peito.
A capacidade de encarar e se
dar bem com grandes desafios está na biografia recente. Como estudante de uma
escola pública tradicional do bairro de Marechal Hermes, aprendeu a improvisar
em uma rotina envolvendo uma hora de ônibus para chegar à aula de manhã, outra
hora de tarde para ir ao estágio na Eletrobrás, no centro da capital, e jogo de
cintura para ainda participar das reuniões e “corres” do movimento estudantil
na cidade. Trocar de roupa e se maquiar na estação de metrô, fazer refeição com
a tradicional batata frita com bacon na região da escola ou vender bijuteria
entre os amigos para fazer um extra foram apenas o começo.
O clima “na função” na vida
de Bárbara aumentou e muito, a partir de 2012, quando já presidente da AMES
tornou-se uma das mobilizadoras do Fórum de Luta contra o Aumento da Passagem
no Rio. Totalmente envolvida com um dos temas mais importantes do movimento
secundarista, o passe livre, viu o Fórum tornar-se, um ano depois, um dos
nascedouros da histórica jornada de manifestações de junho de 2013, em todo o
Brasil. Desde então não saiu das ruas e integra, hoje, a geração de jovens
cariocas que tem emendado lutas após lutas, como a campanha do caso Amarildo, a
greve dos professores municipais e a mobilização pela desmilitarização da
polícia militar. Na suposta trincheira de oposição caricata entre black blocs
de um lado e “coxinhas” de outro, ela aponta um caminho do meio:
“Não me incluo na tática dos
black blocs, apesar de achar simbólico o fato de quebrarem, principalmente, os
grandes bancos privados. Há uma mensagem nisso. Por outro lado, acho perigoso o
discurso dos que gritam contra todos os partidos e contra as entidades do
movimento social. É errado criminalizar a política no geral porque, inclusive,
os que estão na rua são políticos. Fazer uma manifestação é um gesto político”,
afirma. Entre as outras lutas que encampa estão a democratização dos meios de
comunicação, o combate à homofobia e o conjunto das pautas feministas.
Participante do movimento da Marcha das Vadias no Rio de Janeiro, ela acredita
que os temas voltados às mulheres – principalmente as jovens – estão explodindo
na cidade e no Brasil. Menciona os recentes casos de suicídio de duas jovens
estudantes brasileiras, após terem vídeos envolvendo sua sexualidade expostos
na internet: “O problema do chamado ‘revenge porn’ é urgente, precisa ser mais
debatido dentro da escola e também pela UBES”, acredita.
No que diz respeito à
educação pública brasileira, a grande bandeira da entidade, Bárbara espera que
o movimento educacional passe a discutir, com mais afinco, qual é o papel do
sistema de ensino na atualidade. “Comemoramos algumas vitórias como a conquista
dos royalties do petróleo para a área da educação, mas precisamos saber como e
onde esse recurso deve ser investido. Qual escola queremos?”, indaga. Ela
enxerga a necessidade de reformas pedagógicas e estruturais no ensino médio,
grandes reajustes salariais para a classe de professores, alterações
curriculares, adequação de cada sistema de ensino às realidades locais das
regiões brasileiras, o fortalecimento da democracia nas escolas e a valorização
de órgãos como os conselhos escolares e os próprios grêmios estudantis que, em
sua opinião, estão crescendo de forma marcante no país. “O estudante
brasileiro, no geral, ainda acha a escola um saco, além de achá-la ruim, e a
escola não se preocupa com os anseios desses jovens.”, aponta. Segundo ela,
outra prioridade de sua gestão será a campanha pela reestruturação do ensino
técnico, a busca por melhorias nos institutos federais e no projeto original do
Pronatec, realizado pelo governo federal.
A pauta requer fôlego, mas
ela se diz otimista para o ano de 2014, que envolve grandes eventos como as
eleições e a Copa do Mundo no país. Terá que conciliar as viagens e
responsabilidades da presidência da UBES com a sua preparação para a
universidade, onde espera ingressar no curso de administração pública. “Estou
me sentindo desafiada”, descreve. O sentimento é semelhante àquele que teve na
primeira disputa do campeonato de quadrilha da escola, mas Bárbara sabe que,
agora, não é ela que perde ou ganha. São todos os estudantes secundaristas
brasileiros.
Crédito
de Imagem: Vitor Vogel
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